A primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, admitiu nesta quinta-feira que há um risco de não haver qualquer tipo de acordo em torno do Brexit, ainda que ela siga otimista para um acerto para a saída britânica da União Europeia (UE). "Estamos e continuamos nos preparando para um cenário sem acordo do Brexit", afirmou May em sessão extraordinária do Parlamento, convocada para explicar os termos do acerto a ser negociado com o bloco.
A premiê ressaltou ainda que o acordo protege a integridade do Reino Unido e que a relação futura remove o país da jurisdição do bloco. "A União Europeia não controlará nossas leis, pois quem decidirá é o Parlamento. Peço a vocês que não olhem apenas os termos do acordo com a UE, mas que considerem também a vontade do povo", disse.
Na quarta-feira, foi aprovado no gabinete da premiê o esboço de um acordo que será apresentado à União Europeia. O texto, no entanto, foi rechaçado por membros do governo. Diversos integrantes do gabinete pediram demissão. O processo de transição para o Brexit tem de começar até o dia 29 de novembro, para ser concluído até março de 2019.
Entre os pontos em discussão, May reconhece que a solução emergencial para se evitar uma fronteira dura entre as duas Irlandas com o processo do Brexit é desconfortável para os britânicos e também para os europeus, e que, por isso, o voto dos parlamentares para resolver a situação o quanto antes é necessário. "Queremos que o arranjo para fronteira irlandesa não precise entrar em vigor. Isto não é necessariamente o que vai acontecer. Também não há interesse entre os nossos parceiros europeus em arranjo na fronteira irlandesa por tempo indefinido", disse a premiê. Sobre as relações comerciais com os europeus, May observou que a união aduaneira não é a única opção, salientando que uma área de livre comércio e outros acordos são possíveis.
Entre os membros do governo que pediram demissão por discordarem dos termos do Brexit, o principal desfalque é o de Dominic Raab, justamente o secretário responsável pelo acordo. Ele é o segundo titular da pasta a renunciar em quatro meses. Seu antecessor, David Davis, saiu em julho, depois de May anunciar a proposta dela para evitar o restabelecimento de uma "fronteira dura" (com controle rígido de mercadorias) entre as Irlandas, caso as partes não definissem sua relação comercial pós-Brexit antes do fim de 2020: uma união aduaneira cobrindo o bloco europeu e todo o Reino Unido.
O acordo fechado por negociadores britânicos e europeus prevê que, em julho de 2020, as partes decidam se a transição vai ser estendida (o texto não fixa prazo máximo) ou se, a partir de 2021, entra em vigor a união aduaneira. A decisão sobre a extinção desse dispositivo deve ser feita em conjunto, o que desagrada defensores do Brexit, que pleiteavam a inclusão da hipótese de retirada unilateral.
As baixas no governo lançam dúvidas sobre a viabilidade do documento e sobre a sustentabilidade do próprio governo. May pode ter sua liderança contestada por correligionários - basta que 48 conservadores redijam cartas colocando em questão seu comando para que um voto de desconfiança seja convocado no Parlamento, com participação de todas as bancadas.