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Patrimônio

- Publicada em 13 de Janeiro de 2019 às 21:52

De uma capela, surge a Zona Sul

Erguida originalmente há quase 200 anos, histórica igreja é tombada desde 1992

Erguida originalmente há quase 200 anos, histórica igreja é tombada desde 1992


MARCO QUINTANA/JC
O nascimento de Porto Alegre está associado à antiga Igreja Matriz, localizada onde hoje se ergue a Catedral Metropolitana e em torno da qual a Freguesia de São Francisco do Porto dos Casais foi tomando forma na segunda metade do século XVIII. Menos conhecido dos porto-alegrenses é o fato de que outra capela, a 12 quilômetros de distância e bem menos chamativa, é um marco igualmente fundamental para a cidade que conhecemos hoje. Localizada na Zona Sul, a Capela Nossa Senhora de Belém Velho remonta a 1824, e serviu de ponto de partida para o segundo núcleo populacional da cidade que recém-começava a tomar forma.
O nascimento de Porto Alegre está associado à antiga Igreja Matriz, localizada onde hoje se ergue a Catedral Metropolitana e em torno da qual a Freguesia de São Francisco do Porto dos Casais foi tomando forma na segunda metade do século XVIII. Menos conhecido dos porto-alegrenses é o fato de que outra capela, a 12 quilômetros de distância e bem menos chamativa, é um marco igualmente fundamental para a cidade que conhecemos hoje. Localizada na Zona Sul, a Capela Nossa Senhora de Belém Velho remonta a 1824, e serviu de ponto de partida para o segundo núcleo populacional da cidade que recém-começava a tomar forma.
O topo do morro São Gonçalo, local em que foi erguida a capela, pertencia à sesmaria de Dionísio Rodrigues Mendes. No local, havia um oratório privado, de propriedade de Francisca Maria de Jesus, esposa do filho de Dionísio, Manoel. Foi em torno dele que um grupo de fiéis construiu a primeira capela - substituída em 1830 por outra mais ampla, que passou também a guardar os livros de batizados, óbitos e casamentos da comunidade. Em 1846, a construção passou a ser tratada como um curato, e a pequena vila do entorno foi alçada à categoria de freguesia.
A ruína dessa segunda versão da capela, em 1872, acabou tendo grande importância no povoamento das áreas mais ao Sul de Porto Alegre. Depois de um desabamento parcial da capela, parte dos moradores solicitou a transferência da sede da freguesia para as margens do Guaíba - o que se concluiria em 1880, com o surgimento da comunidade de Belém Novo. Muitos, porém, permaneceram no arraial, reconstruindo a capela em 1890.
A estrutura de estilo sóbrio, sem grandes requintes, foi tombada pelo município em 1992. Da estrutura de 1830, restam algumas grades de madeira e uma pia de água benta. O campanário é mais recente, mas chama atenção pela simplicidade, sendo um dos pontos mais marcantes para quem observa a capela de fora.
Em alguns sábados, eventos religiosos são realizados no local, mas o templo fica fechado na maior parte do tempo. Em torno dele, ergue-se a imagem de uma Porto Alegre do passado. A sesmaria original não existe mais, mas algumas casas remanescentes do século XIX estão conservadas, além de grandes figueiras centenárias que dão mais beleza à paisagem e reforçam a sensação de viagem no tempo.

Imóveis preservam aspecto rural das povoações originais

Casarões de estância resistem no Teresópolis; fachada do colégio Cruzeiro do Sul foi restaurada

Casarões de estância resistem no Teresópolis; fachada do colégio Cruzeiro do Sul foi restaurada


MARCO QUINTANA/JC
Várias partes da Zona Sul ainda não foram visadas pela expansão imobiliária, preservando boa parte do aspecto que tinham quando das primeiras povoações. Na Cavalhada, foi restaurada há alguns anos a residência familiar erguida por Vicente Monteggia, um dos primeiros imigrantes vindos da Itália para colonizar o Estado e responsável direto pelo surgimento da Vila Nova. No bairro Cascata, há a casa de veraneio de Júlio de Castilhos, e mesmo em áreas menos afastadas, como na avenida Teresópolis, alguns casarões de estância resistem, como testemunho do antigo caráter rural da região.
Alguns imóveis passaram recentemente por restauro, com o antigo Colégio Cruzeiro do Sul, fundado por missionários da Igreja Episcopal Brasileira, no bairro Teresópolis, nos primeiros anos do século passado. A fachada da antiga escola, onde estudou o escritor Erico Verissimo, foi preservada e é, hoje, a entrada da área de lazer de um condomínio construído no terreno, adjacente ao atual colégio Pastor Dohms.
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Testemunhos do caráter rural, casarões de estância resistem no Teresópolis. Foto Marco Quintana/JC
Ainda assim, boa parte das estruturas históricas que resistem na extensa Zona Sul da Capital não contam com nenhuma proteção especial. Áreas como o entorno da rua Amapá, entre a Cavalhada e a Vila Nova, e bairros como Vila Assunção e Tristeza quase não contam com imóveis inventariados, embora tenham histórias que remontam pelo menos ao século XIX. No momento, são 13 bairros de Porto Alegre com inventários concluídos ou em andamento - todos distantes do Sul da cidade. Não há perspectiva de novas análises da prefeitura em um futuro próximo.

Turismo histórico carece de recursos, ressalta coordenador da prefeitura

Atualmente, Porto Alegre é uma das capitais com maior área rural do País, cobrindo cerca de 30% do território. Ao todo, 11 bairros da Zona Sul têm áreas com esse status, e várias propriedades estão inclusas na rota Caminhos Rurais, que proporciona turismo associado à vida e às lides do campo. Algumas estâncias estão também no roteiro da Linha Turismo, promovido pela prefeitura. A Zona Sul é a única fora da região central a ser contemplada com um roteiro próprio. O caráter histórico, porém, não é prioritário no passeio. O foco são as paisagens naturais da região.
No momento, a principal opção para os interessados em patrimônio histórico é o Viva o Centro a Pé, que promove visitas guiadas a imóveis e regiões de interesse. Apesar do nome, o Centro não é o único contemplado: no ano passado, áreas como o IAPI e a avenida Independência foram alvo de roteiros. "Resolvemos diversificar um pouco, mas mantendo esse nome que as pessoas conhecem", diz Eduardo Hahn, coordenador de Memória Cultural da prefeitura de Porto Alegre. O grande objetivo, segundo ele, é reforçar a educação patrimonial junto à população.
A procura pelos roteiros demonstra que há demanda para esse tipo de turismo histórico. "Às vezes, passamos dos 100 inscritos", revela. Listas de espera são comuns, já que os interessados são muito mais numerosos do que a capacidade dos guias, todos voluntários, de darem conta dos percursos. Vontade de expandir existe, diz o coordenador - o que falta é dinheiro em caixa. "Há muitas edificações com potencial para incentivar a interação da população com o patrimônio. O grande problema é a escassez de recursos", lamenta. A agenda do Viva o Centro a Pé para 2019 ainda está em elaboração.
A oferta de visitas guiadas a locais de interesse histórico seria fundamental para valorizar o aspecto cultural da arquitetura, defende Rafael Pavan dos Passos, diretor da sede gaúcha do Instituto dos Arquitetos do Brasil. "Isso ajudaria (a população) a compreender a arquitetura como algo presente no cotidiano, não como supérfluo, e sim como uma experiência cultural e artística."