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DE FRENTE PARA O GUAÍBA

- Publicada em 18 de Outubro de 2018 às 21:50

Incerteza marca o futuro de antigos comerciantes na Orla do Guaíba

Romário lamenta baixa na venda de lanches após mudança de local

Romário lamenta baixa na venda de lanches após mudança de local


/CLAITON DORNELLES/JC
O comércio junto à orla do Guaíba, em porto Alegre, passou por transformações nos últimos anos. Desde o final de 2015, todos os permissionários que comercializavam lanches e bebidas nas proximidades da Usina do Gasômetro foram realocados para a região do Anfiteatro Pôr-do-Sol. Neste período, as vendas dos cerca de 20 ambulantes caíram por volta de 80%, o que assusta bastante quem depende desta renda para viver. A reportagem do Jornal do Comércio não precisou de muito tempo aguardando a chegada dos proprietários dos pontos para perceber o fraquíssimo movimento em dias de semana. Alguns deles, sequer, abrem, apostando todas as fichas nos fins de semana. Outros, estão optando em ir para as ruas para vender seus produtos.
O comércio junto à orla do Guaíba, em porto Alegre, passou por transformações nos últimos anos. Desde o final de 2015, todos os permissionários que comercializavam lanches e bebidas nas proximidades da Usina do Gasômetro foram realocados para a região do Anfiteatro Pôr-do-Sol. Neste período, as vendas dos cerca de 20 ambulantes caíram por volta de 80%, o que assusta bastante quem depende desta renda para viver. A reportagem do Jornal do Comércio não precisou de muito tempo aguardando a chegada dos proprietários dos pontos para perceber o fraquíssimo movimento em dias de semana. Alguns deles, sequer, abrem, apostando todas as fichas nos fins de semana. Outros, estão optando em ir para as ruas para vender seus produtos.
Romário Pereira da Silva, de 65 anos, é a decepção em pessoa ao relatar as vendas, na verdade, a falta delas. Conhecido por seus tradicionais lanches há 25 anos de frente para o Guaíba, Romário nos conta que tenta faturar algum com a barraquinha aberta até às 23h ou meia-noite, dependendo do clima. Além de queixar-se da falta de clientes, o comerciante revela que eles precisam ainda conviver com a falta de segurança. "Não podemos arredar o pé daqui. Outra coisa que nos falta é um estacionamento, o que tínhamos perto da Usina atraía bastante gente. Aqui, com o terreno esburacado, quase ninguém vem", afirma.
A promessa de retornar à área revitalizada foi dada pela prefeitura da Capital quando eles foram transferidos para o atual ponto. Com a conclusão das obras há cerca de três meses, a ansiedade e a incerteza fazem parte do dia a dia dos comerciantes. "Quando deixamos o Gasômetro, eles diziam que nosso retorno era certo. Agora, parece, que as ideias estão mudando", acrescenta Seu Romário.
Com a queda em 80% do volume de vendas, a maioria confirma que, nestes últimos três anos, o que se vende só paga as contas. O único "benefício" que os vendedores conseguiram foi a ligação de um ponto de água. A luz, só com a utilização de geradores. Para facilitar a higiene pessoal e dos clientes, eles locaram banheiros químico, instalados próximo às barracas.
Sem certeza alguma sobre o futuro, "Seu Romário", como é conhecido, relembra o antigo ponto de venda com nostalgia. "O Gasômetro é ponto de referência. Nós atendíamos ônibus de excursão, grupos de estudantes, turistas, além do movimento diário de quem frequenta a região. Agora, chega a ter dias que não vendo nada", desabafou.

Vendedora mantém esperanças de voltar ao antigo ponto

Luana vende churros na região, seguindo a tradição iniciada pelo pai

Luana vende churros na região, seguindo a tradição iniciada pelo pai


/CLAITON DORNELLES /JC
Há 25 anos, quem chega na orla do Guaíba pode contar com deliciosos churros para saciar a fome. A iguaria de origem espanhola pode ser encontrada na barraca da família Vieira. Fundada pelo pai, falecido, a barraquinha hoje é administrada pela filha Luana de Lima Vieira, de 33 anos. Ela fala que a última notícia que chegou até os comerciantes, vinda da prefeitura, é de que terão "alguma prioridade" para retornar à área já revitalizada. "A gente sabe que ocorrerá uma avaliação de quem tem, realmente, condições de operar nestes novos espaços", diz.
Descontente com a queda nas vendas, Luana afirma que os fins de semana são as "galinhas dos ovos de ouro" que garantem um rendimento melhor, mas que o faturamento não chega aos pés do obtido no antigo local. "Se os espaços estão prontos, por que a não podemos voltar? Se antes fazíamos parte da orla, por que agora não podemos ter esse direito?", questiona.
A revitalização melhorou um pouco o movimento na área, afastada alguns quilômetros do Gasômetro. Desde os 13, 14 anos de vida, Luana ouvia o pai falar sobre as obras no local. Questionada sobre se tem um plano B, caso não possa ser transferida para a área revitalizada, Luana diz que isso ainda não foi cogitado. "Sabemos que a ideia é que as obras de revitalização prossigam. Mas quando será (a conclusão)? Ninguém sabe. Enquanto isso, ficamos sem saber para onde vamos", lamenta.
Por outro lado, Luana segue esperançosa em poder retomar as boas vendas e fazer parte da área ocupada por milhares de pessoas nos últimos três meses. "Esperamos conquistar mais com as melhorias e nos beneficiarmos de tudo o que a orla está oferecendo, mas sabemos que, em ano eleitoral, as coisas são um pouco mais lentas que o normal."
 

Smams promete não desamparar ambulantes

O uso do espaço público se dá através de um processo licitatório, que precede de um edital, que deve ser lançado ainda em 2018, de acordo com Maurício Fernandes, titular da Secretaria do Meio Ambiente e Sustentabilidade (Smams). Ele ressalta que a prefeitura de Porto Alegre tem um compromisso em manter estes trabalhadores na orla do Guaíba.
"Os procuradores (que ficarão responsáveis por elaborar o edital) são responsáveis por encontrar uma solução para não desamparar estes comerciantes, sem descumprir a legislação. Eles serão mantidos na orla, mas sem a garantia de quais irão ocupar o espaço revitalizado. Não iremos privilegiar uns em detrimento de outros", explica.
O titular da Smams ressalta que novos postulantes ao espaço não podem ser privados da concorrência, candidatando-se também às 19 "novas barracas", estrutura contemplada no projeto de revitalização. A questão é que esses comerciantes, estabelecidos há mais de 20 anos na orla, desejam ocupar a área pronta.
"Espaço para eles, tem. Não é objetivo da prefeitura excluir quem já estava ali, mas existe uma legislação que obriga a abrir um processo para que novos postulantes também tenham acesso", complementa Fernandes.