O escritor Leonardo Padura, quinto conferencista do Fronteiras do Pensamento deste ano, falou, na noite desta segunda-feira (21), no Salão de Atos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), em Porto Alegre, sobre as consequências de viver isolado em Cuba, ressaltando o sentimento de pertencimento dos moradores da Ilha.
Para uma plateia lotada, o escritor do best-seller O homem que amava os cachorros leu seu texto Insularidade: A maldita circunstância da água por todos os lados, uma reflexão sobre a influência confusa e contraditória que a vida cercada por fronteiras causa na literatura e na vida dos cubanos. Ao mesmo tempo que a liberdade de viajar pelo mundo é almejada, estar dentro da insula significa pertencer a algo. “É sobre amor e ódio a Cuba. Poucas pessoas têm tanta sensação de pertencimento quanto os cubanos”, contou.
Segundo Padura, o Malecón, muro a beira-mar de Havana, é também uma fronteira espiritual e orgânica que representa o fim e começo da Ilha. “As pessoas sentam no Malecón no final do dia. As que olham para a cidade, olham para a vida dos outros. As que sentam de frente para o mar, olham para dentro de si, é um eterno mistério”, disse.
Durante a conferência, o escritor também discorreu sobre a dificuldade de ser escritor em Cuba, além dos obstáculos ainda encontrados por quem deseja sair do País. Os escritores só podem assinar com agência literária vinculada ao Estado; caso fechem contrato com editoras estrangeiras, só recebem 1% dos lucros. Ele afirmou, também, que mesmo com a lei de 2013, que permite que os cidadãos possam viajar livremente, ainda é muito complicado sair, por conta da situação econômica e pelo receio de imigração dos consulados de outras nações.
Por fim, Padura deu um relato emocionante de porque continua vivendo em Cuba, mesmo tendo cidadania espanhola e oportunidade de viver em outros lugares. Conforme o escritor, a ilha o transformou no que é hoje. Para ele, seria muito difícil continuar escrevendo fora do País. “O escritor é a sua cultura. Havana é uma memória de tantos escritores que me acompanharam, alguns em que me inspirei” e “as cores e as pinturas, a música e a gastronomia cubana é o que escrevo. Eu pertenço a Cuba, e Cuba me pertence”, concluiu.