O programa Meninas Digitais é uma iniciativa da Sociedade Brasileira de Computação (SBC) e têm como objetivo acentuar a inclusão e fomento de mulheres na área de Tecnologia da Informação (TI), um setor ainda predominantemente masculino. Nesta entrevista, a professora Sílvia Amélia Bim, secretária adjunta da SBC Regional Paraná e professora da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (Utfpr), uma das idealizadoras do projeto, fala sobre essa realidade.
De acordo com o
Code.org, organização sem fins lucrativos que divulga e ensina programação a pessoas de todas as idades, os empregos na área de Computação irão mais do que dobrar até 2020, chegando a 1,4 milhão de vagas. Não há, porém, mão de obra qualificada suficiente para suprir essa grande demanda. A estimativa é que apenas 400 mil sejam preenchidas. Um dos principais motivos é o baixo número de mulheres na área. Saiba mais sobre o tema em
meninas.sbc.org.br.
GeraçãoE - Como surgiu a iniciativa?
Sílvia Amélia Bim - O programa Meninas Digitais nasceu em 2010, em um evento da Sociedade Brasileira de Computação (SBC). A ideia foi pensada dentro de outro encontro, chamado Women In Information Technology (WIT). Em 2010 houve uma oficina dada pela Microsoft e percebeu-se que era necessário trabalhar a questão antes da universidade. Nesses anos, já conseguimos incentivar 30 projetos, espalhados por todo o Brasil.
GE - Como funciona na prática?
Sílvia - Em geral, nasce dentro das universidades como projetos de extensão. As meninas vão para escolas, realizam oficinas, palestras, encontros. Também há algumas reuniões para motivar as atuais estudantes, que atualmente representam 10% nas turmas.
GE - Por que na área de TI predomina o gênero masculino?
Sílvia - São várias razões que foram construídas ao longo dos anos em cima de estereótipos. A gente cresce em caixinhas. A Tecnologia entrou na caixinha dos homens, porque a computação nasce muito relacionada com a Matemática. Vamos descobrindo com o passar do tempo que não tem coisa de homem e mulher, tem coisa de talento, de interesse. Quando começaram os jogos digitais, as propagandas tinham só meninos.
GE - No mercado de trabalho, a disparidade continua?
Sílvia - A gente já está vendo várias empresas se movimentando para contratar mais mulheres e, às vezes, isso exige uma postura diferente. Sabe-se de algumas empresas que discutem questões comportamentais de quebra cultural. Mas, infelizmente, há muito a conquistar ainda nesta luta por direitos iguais. Um ponto que precisa mudar é a relação da empresa com os próprios homens. Se essa empresa não libera o pai para ir na escola, para levar o filho no médico, de novo a empresa está colocando automaticamente toda a carga na mulher.
GE - Quantas instituições participam do programa?
Sílvia - São 30 projetos cadastrados, mas nem todos estão vinculados a universidades. São de 25 a 27 instituições diferentes por todo o Brasil. Uma ou duas são particulares, o resto são universidades públicas.
GE - Como tu vês o cenário no Rio Grande do Sul? E quais instituições estão envolvidas no Estado?
Sílvia - No ano passado, o nosso evento nacional foi em Porto Alegre. Então, a gente fez uma análise dos trabalhos publicados e tivemos um número mais expressivo do Rio Grande do Sul que de outras regiões, o que facilita as participações. Um projeto que está vinculado com a gente há bastante tempo é da UniPampa, de Alegrete. Sei que tem projetos na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), mas eles não estão diretamente ligados ao programa Meninas Digitais. É, no entanto, um trabalho bastante reconhecido.