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Porto Alegre, domingo, 18 de junho de 2017. Atualizado às 21h22.

Jornal do Comércio

Panorama

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literatura

Notícia da edição impressa de 19/06/2017. Alterada em 16/06 às 17h59min

Filha de Olga Prestes lança nova obra sobre assassinato da mãe

Olga Benario Prestes ganha nova biografia

Olga Benario Prestes ganha nova biografia


/ARQUIVO ANITA LEOCÁDIA/DIVULGAÇÃO/JC
"A descoberta de novos documentos é sempre um acontecimento feliz para o historiador, pois lhe permite completar, aprofundar e corrigir os conhecimentos sobre o tema por ele pesquisado." A frase com que a historiadora Anita Leocadia Prestes, de 80 anos, abre sua obra mais recente define o critério de objetividade com que ela procura se debruçar sobre um tema histórico que lhe é profundamente pessoal: o assassinato de sua mãe, Olga Benario Prestes, pelo regime nazista.
Os documentos a que ela se refere vieram dos arquivos da Gestapo, a polícia secreta do Terceiro Reich alemão, e dizem respeito aos quase seis anos (1936-1942) em que Olga ficou sob o poder dos nazistas, até ser executada em uma câmara de gás, aos 34 anos.
Apreendidos pelos soviéticos após o fim da Segunda Guerra e disponibilizados on-line em abril de 2015, foram a base para que a autora escrevesse a recém-lançada biografia Olga Benario Prestes - uma comunista nos arquivos da Gestapo (Boitempo, 144 págs., R$ 37,00).
"Ainda em 2015 fui avisada por um historiador alemão, meu conhecido, da abertura do arquivo da Gestapo na internet", afirma a autora. "Como a maior parte dos documentos está em alemão, contei com a colaboração de vários professores para a sua tradução, cujo conhecimento me motivou a escrever esse livro."
A vida da judia comunista entregue ao regime de Hitler pelo governo de Getúlio Vargas já havia sido tema de uma alentada biografia escrita por Fernando Morais e lançada em 1993 - depois adaptada para o cinema, em 2004. Anita Leocadia diz que seu livro é "uma complementação" daquele e, nesse sentido, passa rapidamente pelos principais episódios da vida de sua mãe até sua prisão pela polícia de Vargas em abril de 1936 e sua extradição para a Alemanha, mesmo grávida, cinco meses depois.
O novo livro centra-se nos anos que Olga Benario passou sob poder dos nazistas. A quantidade de registros oficiais que as autoridades do Reich produziram sobre a prisioneira mostra a importância que atribuíam à "comunista obstinada e astuta".
São oito dossiês (cerca de 2.000 folhas) que a autora cogita ser "a coleção mais abrangente de documentos sobre uma única vítima do fascismo". Destacam-se no material as correspondências trocadas entre Olga e sua família, em um total de 55 cartas. "Os novos documentos confirmam o que já sabíamos a respeito da minha mãe: sua inaudita coragem e intrepidez revolucionária. Ela jamais delatou alguém, jamais abandonou seus compromissos de comunista convicta."
A papelada agora revelada também confirma algo de que Anita Leocadia já tinha ciência: o desinteresse da mãe de Olga, Eugenie Benario, pelo destino de sua filha e de sua neta, por conta da ligação dela com o comunismo. "Muitos anos depois daqueles acontecimentos, tive contato com alguns primos distantes que me procuraram, mas os parentes próximos, a avó Eugenie e o tio Otto, morreram em 1943, como tantos outros judeus, em campos de concentração", conta a autora.

Autobiografia a caminho

Concluída a obra sobre sua mãe, a autora diz estar agora dedicada a escrever suas próprias memórias, que ela vê como "um complemento válido" à biografia de seu pai que ela publicou em 2015 (Luiz Carlos Prestes: um comunista brasileiro).
"Em certa medida, se justifica pelo fato de, durante a minha já longa trajetória de vida, ter enfrentado as vicissitudes das perseguições movidas contra meu pai e nossa família", afirma.
Ela pretende narrar os "momentos históricos conturbados" por que passou e que a forçaram a longos períodos no exílio. "Fui processada e condenada pelos tribunais militares da ditadura, tive os direitos políticos cassados, fui anistiada e acompanhei meu pai nos embates internos do PCB, partido em que cheguei a ser dirigente e do qual me afastei junto com Prestes."
A historiadora diz ainda que sua memória guarda "o registro de múltiplos acontecimentos inéditos e fatos pouco conhecidos ou falsificados pelos meios de comunicação a serviço dos interesses dos donos do poder".
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