Cerca de 50 estudantes estão ocupando, desde terça-feira, um dos prédios da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs). O motivo, contudo, não é interromper as aulas para que seja atendida alguma demanda política ou estudantil. Ao contrário: o que os alunos buscam é garantir que o edifício, envolvido em um impasse entre a Uergs, a Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE) e o governo estadual, seja efetivamente destinado às atividades da universidade.
Desde 2013, a Uergs mantém contrato de uso compartilhado, com a CEEE, de parte das instalações no bairro Agronomia, em Porto Alegre. O acordo, com duração de 30 anos, prevê pagamento de R$ 130 mil mensais à companhia. As parcelas, porém, estão atrasadas - segundo a universidade, em consequência do corte de repasses do governo destinados a esse fim. A dívida, hoje, estaria em torno dos R$ 3 milhões.
O prédio 11, que abrigaria salas de aula da Uergs, seria liberado pela CEEE no ano passado, após o encerramento de um curso do Centro Técnico de Aperfeiçoamento e Formação do órgão. Com a dívida, porém, a entrega não ocorreu, o que ampliou as dificuldades já existentes de espaço físico para os cursos da Uergs. Em assembleia ocorrida na terça-feira, o Diretório Central dos Estudantes (DCE) decidiu pela ocupação, por tempo indeterminado, para permitir o acesso de estudantes, professores e funcionários ao local.
A reportagem do Jornal do Comércio constatou que aulas estavam sendo ministradas no local na tarde de ontem. De acordo com Éderson Gustavo de Souza Ferreira, coordenador-geral do DCE da Uergs, são as primeiras oferecidas pela universidade no prédio em mais de dois anos. "Estamos com aulas em três turnos", afirmou.
Além do espaço, a instituição tenta garantir cerca de R$ 13 milhões, obtidos junto à União em 2012 para a construção do campus central da Uergs. A liberação da primeira parcela, de R$ 3,5 milhões, depende de contrapartidas do governo gaúcho - entre elas, a terraplanagem do terreno, com custo de R$ 800 mil e ainda não financiada pelo Piratini. Além das salas de aula, o espaço deve abrigar um anfiteatro, biblioteca central e a reitoria, que hoje está em prédio alugado no Centro.
Estava prevista para o começo da noite de ontem uma reunião da reitoria da Uergs e representantes dos alunos com o secretário de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, Fábio Branco. Até o fechamento da edição, não havia definição sobre os resultados do encontro.
"Precisamos mostrar para o atual governo que a Uergs é investimento, e não gasto", ressaltou Ferreira. "Sabemos que o Estado e o País estão em crise, mas queremos mostrar que a saída da crise só virá com investimentos em educação."
Em nota, a CEEE afirma que o prédio vinha sendo utilizado para treinamentos e que a ocupação, além de interromper essas atividades, coloca equipamentos e estruturas em risco. A companhia vai buscar na Justiça as ações cabíveis para retomar a posse do prédio.