"Um belo dia resolvi mudar e fazer tudo o que eu queria fazer", diz a letra da música. E não é ficção. Conheça empreendedores que largaram tudo para começar do zero nos negócios

No meio do caminho, havia outro: empreendedores que mudam de carreira após anos na mesma profissão


"Um belo dia resolvi mudar e fazer tudo o que eu queria fazer", diz a letra da música. E não é ficção. Conheça empreendedores que largaram tudo para começar do zero nos negócios

A Macuco Cervejas Artesanais foi criada a partir de um momento de reinvenção pessoal das sócias Fernanda Nascimento, 32 anos, e Michelle de Lara Ferraz, 36. Elas levavam uma vida completamente diferente da que têm hoje, entre barris de chope e feiras de rua da Capital.
A Macuco Cervejas Artesanais foi criada a partir de um momento de reinvenção pessoal das sócias Fernanda Nascimento, 32 anos, e Michelle de Lara Ferraz, 36. Elas levavam uma vida completamente diferente da que têm hoje, entre barris de chope e feiras de rua da Capital.
Dedicada à carreira acadêmica e ao ensino, Fernanda é mestra e doutora (ambos títulos obtidos com louvor) em História. Michelle é advogada e estava iniciando um mestrado quando descobriram a cerveja. Em um congresso em Belém do Pará, em 2013, provaram uma artesanal, o que despertou curiosidade. "Mas o nosso paladar ainda não estava nada pronto", recorda Michelle.
A partir disso, começaram a se interessar pelos diferentes tipos da bebida e a estudar suas características. Até que, por questões familiares, precisaram passar três meses na cidade de Marília, em São Paulo, onde, segundo elas, não havia muito como gastar o tempo - a não ser andando de bicicleta e degustando as cervejas da região.
Na volta para casa, mergulharam de cabeça nos cursos de cervejaria e, em 2015, começaram a produzir em casa, testando sabores e ingredientes. O envolvimento foi tanto que acabaram indo até a Bélgica desbravar as receitas de lá. Assim, a possibilidade de trabalhar com isso foi virando uma realidade.
Em 2016, a Macuco nasceu, já embarcada naquilo que é a marca registrada delas por onde passam: o tuktuk. Customizado pelas duas, o veículo com quatro torneiras comporta uma quantidade de 120 litros de cerveja artesanal de diferentes marcas, que passam por uma curadoria.
Macuco Cervejas Artesanais, de Michelle Ferraz e Fernanda Nascimento
Para pilotá-lo, foi preciso que Fernanda tirasse a carteira de habilitação para motocicletas. Em dezembro último, a marca adquiriu a segunda unidade do veículo.
Desde outubro passado, esta é a função principal das duas, que abandonaram as suas carreiras e se dividem entre a manutenção das redes sociais e dos materiais gráficos da marca, compra, venda e transporte das cevas e, claro, a presença em eventos como Comida de Rua, Me Gusta, Dokka Food Park e onde mais tiver gente animada reunida e espaço para estacionar. "As pessoas já nos perguntam onde vamos e vão atrás de nós", conta Michelle. Se elas gostam da nova vida? "Eu acordo mais cedo, durmo mais tarde e estou mais feliz", diz Fernanda.
"Quero poder me reinventar a cada 10 anos", projeta Michelle, que está de volta à universidade, mas no curso de Tecnologia em Alimentos, na Ufcspa, por causa da cerveja. "Somos de uma primeira geração que não quer viver para sempre no mesmo apartamento, com o mesmo emprego. E a geração dos 20 está ainda mais móvel", elucida Fernanda.

O respiro entre as decisões

"O sentimento de fazer parte da coisa simplesmente deixa de existir. É uma sensação física", avalia Rodrigo Sandri, 43 anos, sobre quando entendeu que era hora de se desligar do trabalho, decisão que levou dois anos para tomar. Agora, ele está no momento de descansar, experimentar a vida e ver o que a nova fase trará. "Eu sei exatamente o que eu quero não fazer", diverte-se, experiente.
Rodrigo atuou como diretor de operações e produção da Opus Promoções, uma das maiores operadoras de teatros privados do Brasil. Suas operações somam uma agenda de 13 mil eventos e 20 milhões de espectadores por ano, o que, até dezembro, envolvia a responsabilidade direta de Rodrigo. "Eu estava ligado ao trabalho full time."
No cargo há 10 anos e com 20 de empresa, deixar o emprego faz parte de um novo entendimento da perspectiva de felicidade. O que, nas palavras de Rodrigo, vai mudando ao longo da vida. "Fui construindo essa decisão. Entendi que não precisava trocar isso por outra coisa imediatamente, mas soltar o que eu tinha para poder ficar com a mão livre", considera.
O executivo sempre gostou do dinamismo da profissão e seus desafios, mas acabou criando para si uma rotina desgastante. Aos 33 anos, a saúde começou a dar sinais de que o estresse e a sobrecarga estavam intensos demais. E foi aí que aprendeu que abraçar tudo não é sinônimo de competência. "Se você é um líder, você sabe dar suporte para que as pessoas façam o trabalho delas da melhor forma", pontua.
O perfil proativo, que pautou toda sua carreira, permanece. "Eu nem sei se aguentaria um ano sabático", ri. Atualmente, tem se esquivado de convites e da expectativa que o mercado tem de seus próximos passos, que ele sequer sabe quais são. Em breve, Rodrigo embarca para uma viagem de cerca de três meses para a Califórnia. E, por enquanto, é só isso.

Todas as direções levam à cozinha

Enquanto montava cardápios em parceria com um chef, como coordenadora de eventos da Dado Bier, em 2005, a então relações públicas Natalie Machado já pensava que poderia vir a trabalhar com gastronomia. Mas do lado de fora da cozinha. "Daquelas ideias que estão sempre na cabeça e você vai adiando", ilustra. Ela, que hoje é dona do Studio Aromas, em Porto Alegre, imaginava aliar a vontade de administrar um negócio com a afinidade que tinha com o ramo. As coisas começaram a mudar quando, no ano seguinte, se deu conta de que não queria mais ser funcionária.
Natalie abriu uma empresa de assessoria e consultoria de comunicação para marcas, e começou, aos poucos, a dar vazão aos planos. Para ter um negócio de comida, pensava, teria que saber como funcionam os processos - ou seja, aprender a cozinhar. Quatro anos depois, entrou no curso de cozinheiro profissional do Instituto Gastronômico das Américas (IGA), em Porto Alegre.
GeraçãoE  Entrevista com Natalie Machado, chef do Studio dos Aromas, sobre mudança de carreira (Natalie era RP).   na foto: ambientes e detalhes do restaurante
Levando uma rotina dupla por dois anos - tempo de duração do curso -, Natalie passou a comunicar seus contatos sobre a mudança de área e de que estaria, aos poucos, trabalhando cada vez menos com Comunicação - área em que não se sentia mais desafiada. "Eu estava sem conseguir me reinventar", conta. Neste momento, já não havia o que fugir das panelas. A "deixa" foi o encerramento de um contrato de trabalho.
Disso tudo surgiu o Studio, em 2011, empresa de gastronomia que inicialmente atendia só eventos. Hoje, também tem residência fixa: na rua João Alfredo, nº 549, no bairro Cidade Baixa, que atende 20 pessoas por horário. Foram quase dois anos de preparação da casa até abrir as portas, em abril de 2016. Junto a essa construção, surgiu a profissional que agora responde por chef. Aos 40 anos de idade, Natalie inaugurou seu próprio restaurante, com receitas autorais que mudam a cada mês, depois de 17 anos de carreira na Comunicação. "Dá um frio na barriga. Mas sei que estaria frustrada se não tivesse dado este passo", avalia. E recomenda aos desavisados: "Qualquer negócio é sempre uma incógnita".
GeraçãoE  Entrevista com Natalie Machado, chef do Studio dos Aromas, sobre mudança de carreira (Natalie era RP).   na foto: ambientes e detalhes do restaurante
GeraçãoE  Entrevista com Natalie Machado, chef do Studio dos Aromas, sobre mudança de carreira (Natalie era RP).   na foto: ambientes e detalhes do restaurante