Quem disse que arte e gestão não combinam? Ao topar o desafio, tem gente que descobre formas de impulsionar projetos e janelas de negócio

Envolvimento com arte desperta interesse por gestão criativa


Quem disse que arte e gestão não combinam? Ao topar o desafio, tem gente que descobre formas de impulsionar projetos e janelas de negócio

O Festival de Cinema Fantástico de Porto Alegre, o Fantaspoa, atrai os fãs do gênero há 12 anos. Só em 2016, a média foi de 8 mil espectadores na mostra produzida, desde a quarta edição, por Nicolas Tonsho, 30 anos, e João Pedro Fleck, 33. Com a responsabilidade, a dupla descobriu também sua faceta empreendedora.
O Festival de Cinema Fantástico de Porto Alegre, o Fantaspoa, atrai os fãs do gênero há 12 anos. Só em 2016, a média foi de 8 mil espectadores na mostra produzida, desde a quarta edição, por Nicolas Tonsho, 30 anos, e João Pedro Fleck, 33. Com a responsabilidade, a dupla descobriu também sua faceta empreendedora.
Aos poucos, o Fantaspoa foi abrindo portas para que outros negócios acontecessem na vida dos dois. Da necessidade do próprio festival, em 2008, nasceu uma empresa que presta serviços de legendagem de filmes. "Não tínhamos dinheiro para contratar alguém para legendar", diz Fleck.
Depois, a Fantaspoa Produções - nome da empresa que responde pelo festival - passou a ser produtora executiva de filmes para difundir a marca. Eles têm no currículo seis longas e três curtas.
"A gente nunca se propôs a fazer um filme de grande orçamento inicialmente. Só que temos muitos contatos. É interessante para o filme ter a marca do Fantaspoa também", avalia Fleck.
O evento é o único representante sul-americano da Federação Meliès, instituição que reúne os 22 principais festivais de cinema fantástico do mundo, distribuídos em 16 países.
A contribuição como produtores executivos não vem tanto de dinheiro investido, mas dos canais que o festival consegue abrir para os filmes. Para a edição mais recente, foram mais de 50 propostas de longas-metragens, e alguns queriam apenas o peso da marca embarcado nos créditos.
Realizar um festival com tantos braços é também um exercício de gestão. Todos os anos, chega a época de preencher muitos documentos, editais e apresentar o projeto para apoiadores.
"A gente, na verdade, acaba sendo bem burocrata", realiza Tonsho.
Patrocinado pela Petrobras desde 2010, o festival traz cerca de 40 pessoas por edição, entre cineastas e profissionais da área para cursos, exibições e workshops. O evento já consegue se pagar, mas não gera lucro. "Nosso negócio mais bem-sucedido foi a legendagem, porque cobramos menos que as empresas grandes e conseguimos entregar com rapidez", aponta Fleck.
Viver só da paixão pelos filmes ainda não é uma realidade para todos. "Em Porto Alegre, a maioria dos diretores e produtores mais conhecidos estão dando aulas em universidades", exemplifica Fleck. Ele mesmo é pesquisador de pós doutorado. Tonsho é bancário. "Um mês antes do festival, já não sobra muito tempo pra dormir", conta ele, que tira 15 dias de férias do trabalho só para a temporada do Fantaspoa. Neste ano, foi a primeira vez que os dois pensaram na possibilidade de se dedicar exclusivamente à produtora.
"A gente está ainda nesta discussão, que é longa. Se fizéssemos isso, teríamos que diversificar as funções também", diz Tonsho. Uma dessas diversificações seria remodelar e trabalhar com produção diretamente no set de filmagem. "A minha opção de vida é cada vez mais me aproximar de pessoas e projetos que eu realmente goste", incrementa Fleck.
"Quem trabalha com isso há 30 anos e quer fazer filmes ainda precisa entrar em editais, porque não temos um mercado cinematográfico aquecido", ressalta. Por isso, o cinema independente não é um negócio de investidores no Brasil e, dificilmente, se lucra com ele.

Artista brasileiro cria franquia de galerias de arte

Quando descobriu a arte digital e a impressão em grande formato, em 2009, André Diniz, 43 anos, fundou a Urban Arts. Na época, era apenas um site que vendia obras dele e de outros artistas pela internet. Em dois anos, a marca inaugurava a primeira galeria, na rua Oscar Freire, na nobre região dos Jardins, em São Paulo. "Aconteceu tudo experimentando", diz.
Em 2013, a Urban Arts se transformou em uma rede de franquias de galerias de arte, e hoje está em 10 estados, com 13 franqueados e duas lojas próprias. Em 2015, o crescimento foi de 61% em faturamento, num total de R$ 14,5 milhões.
"A primeira loja física nasceu como uma demanda dos nossos clientes, que queriam ver as coisas ao vivo", conta. A procura de pessoas interessadas em abrir franquias apareceu organicamente também, Diniz afirma. Nesta nova fase, juntou-se a ele o sócio Gustavo Guedes, 44, para incrementar a gestão e profissionalização da empresa.
Desde o início, o site já abria espaço para artistas cadastrarem trabalhos para venda, e o volume, conta, cresceu muito rápido. O acervo atualmente tem 3 mil artistas ativos, e as peças podem ser transferidas para diferentes produtos, como capas para celular, almofadas, camisetas, sketchbooks, quadros e cartazes.
As artes passam por uma equipe de curadoria, que seleciona cerca de mil trabalhos por mês. "É uma arte que, até então, não era valorizada, que é a ilustração, a arte digital", opina.
Além da matriz nos Jardins, na capital paulista, há operações nos bairros Moema, Vila Madalena e Jardim América. As demais cidades são Campinas, Sorocaba, Teresina, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Belém, Recife, Brasília, Fortaleza, Cuiabá e Porto Alegre (na rua Quintino Bocaiúva, nº 715, no bairro Moinhos de Vento).
O incentivo da empresa é que todas as franqueadoras apoiem a produção de artistas locais. "As galerias precisam fomentar os trabalhos e abrir espaço para os que estão começando", diz. Diniz emprega diretamente cerca de 45 pessoas, e há toda uma cadeia que a empresa movimenta com a gama de artistas, que recebem 20% por trabalho vendido no site e 10% nas lojas. "A Urban Arts é bem democrática pelo fato de que qualquer um pode se cadastrar e ganhar conosco", complementa.
"Têm artistas que já estão ganhando superbem conosco. O nosso top artista consegue receber R$ 10 mil por mês. E há uma média que recebe
R$ 300,00 a R$ 400,00, o que é importante", dimensiona.
"A gente veio para quebrar paradigmas, com uma galeria mais descontraída, que tem também um viés decorativo", detalha.

Atriz pratica autogestão em Nova Iorque

A atriz gaúcha Gabrielle Fleck, 23, mora nos Estados Unidos há oito anos. Formada em teatro pela Universidade de Nova Iorque (NYU), fundou, com colegas, em 2014, a companhia de teatro The Joust. Além de atuar, desempenha funções de gestão no grupo.
"Acabei descobrindo com a criação da companhia que gosto também de fazer parte do processo decisório, além do criativo", salienta. E isso, para ela, incrementa o trabalho como artista, no sentido de ter um olhar mais apurado para gerenciar também a carreira. "É podendo decidir, sabendo e tendo acesso ao processo de gestão e sabendo as prioridades artísticas que eu vou conseguir gerenciar melhor a arte, fazer o que quero", acredita.
Neste processo, ela está aprendendo que é melhor gerar e gerenciar o próprio trabalho do que esperar para ser recrutado - em Nova Iorque acontece uma infinidade de audições todos os dias, onde há também uma infinidade de atores e atrizes à procura do seu lugar ao sol. Com o trabalho próprio, seguem as oportunidades de se manter atuando.
No grupo são cerca de 30 pessoas, e eles têm reuniões todos os meses sobre a gestão da companhia. Gabrielle toma conta do regramento do grupo, coordenando as normas já decididas e registrando as reuniões. "É um pouco mito essa questão de que artista, administração e números são difíceis de unir. Mas claro que é preciso ter afinidade com o assunto", comenta.
Gabrielle também trabalha na equipe de produção de uma produtora de filmes independentes, a Rose Pictures, de Rose Ganguzza. "Estou aprendendo muito com eles, e acho legal poder fazer parte do processo inteiro, não só na frente das câmeras", conta.
Vivendo a realidade de uma indústria do entretenimento superaquecida, Gabrielle acredita que no Brasil ainda faltam incentivos para que a cultura vire realmente um negócio rentável. "No Brasil, não falta talento, mas incentivo. Aqui nos Estados Unidos, as pessoas estão dispostas a pagar por um espetáculo, e ele tem agenda todas as noites e todos os dias da semana. O que tem aqui é plateia e dinheiro sendo colocado nas artes, então as coisas acontecem", diz. 
Se fosse o caso de voltar para o Brasil, sente que teria de ir para os polos do setor no País, São Paulo e Rio de Janeiro.
"No teatro, tu aprendes a improvisar, e tu acabas passando isso para tua vida." Na gestão, ela afirma, não é diferente: é preciso lidar com imprevistos o tempo todo.

Apoio do Sebrae

O Sebrae/RS lançou, este mês, a 2ª turma do Programa de Qualificação para o Setor Criativo de Gramado. O novo grupo atende a uma demanda gerada no município a partir do lançamento da 1ª Frente para a Economia Criativa, realizada em maio, em parceria com o Projeto Semente. “Havia 20 vagas, mas tivemos muito mais interessados”, conta o gestor do Programa de Qualificação para o Setor Criativo de Gramado pela entidade, Alcir Cardoso Meyer.