Roberta Fofonka

"O problema de todo presidente é a solidão", diz CEO da Cultura

Roberta Fofonka

Imagine como deve ser estar no comando de uma empresa familiar, com três gerações de história, 1.800 funcionários, 19 lojas - dentre elas, a maior livraria do País, em São Paulo, com 4.300 m² - e, ainda por cima, lidar com todas as pontas de um negócio em crescimento acelerado.
Imagine como deve ser estar no comando de uma empresa familiar, com três gerações de história, 1.800 funcionários, 19 lojas - dentre elas, a maior livraria do País, em São Paulo, com 4.300 m² - e, ainda por cima, lidar com todas as pontas de um negócio em crescimento acelerado.
Essa é a função de Sergio Herz, 44 anos, desde 2011. Ele é neto de Eva Herz, fundadora da Livraria Cultura, e CEO do empreendimento, que tem uma unidade em Porto Alegre, no Bourbon Country.
Por telefone, tivemos uma conversa aberta com Herz, que, sem muitas reservas, relevou um pouco do que é a rotina e os desafios de ocupar uma posição dessas. Segundo ele, o mais difícil da gestão é "a solidão do cargo".
Geração E - Como você lida com o fato de, por estar na posição de chefia, ser modelo das pessoas o tempo inteiro?
Sergio Herz - Na verdade, talvez haja um estereótipo que criam de presidente de empresa. Eu tento me colocar numa posição em que também falho. Vou fazer besteira, não sou melhor que ninguém. E eu estou ali com um objetivo, que é gerar valor para a empresa. Como a gente gera valor para a empresa? Através de venda e agradando o cliente. Ponto. Este é o meu objetivo e eu vou brigar sempre por isso. Às vezes, brigo de maneira certa, às vezes de maneira errada. E é difícil acertar com todo mundo. Eu procuro respeitar as pessoas do jeito que elas são, não gosto de fazer pré-julgamentos, porque acho que ninguém tem que ser do jeito que eu gostaria. Da mesma forma, as pessoas têm de me aceitar como sou. Isso é uma parte bastante importante de lidar com pessoas e alivia este peso que você me perguntou. Eu posso estar brigando ou cobrando, mas eu não estarei ali por picuinha, e sim pelo objetivo da empresa. E isso esvazia qualquer outra coisa.
GE - Então, quais os maiores desafios de ser presidente de empresa?
Herz - O que acho o pior de você ser exemplo é a solidão do cargo. Você chama alguém para almoçar - usando o exemplo mais bobo, a pessoa não vai dizer não. Ninguém vai dizer "pô, não estou afim de almoçar com você hoje". Se você chama para tomar um café, a pessoa não vai porque está com vontade. Aliás, pode até ser que sim, mas na maioria das vezes ela vai porque você é o chefe dela. Porque você tem o poder de uma caneta. E isso é perceptível, isso acontece porque é do ser humano. As pessoas infelizmente não falam tudo o que elas querem para você porque você está numa posição de poder. Por isso que é solitário. E você tem pressão por todos os lados. Este, acho, é o principal problema de todo presidente de empresa, não estou falando só de mim. É a solidão de tomar decisões que só você pode tomar. Tudo isso faz parte do jogo. Para mim, esta é a parte mais difícil.
GE - E no andar deste processo de expansão, você escorregou em algum momento?
Herz - Tiveram várias coisas que eu errei. A Cultura é uma empresa que vem de uma administração familiar para uma transformação em empresa profissional. E nessa questão de profissionalizar, por mais que tenha contratado um time maravilhoso e competente, esse time não tinha a nossa cultura, coisas importantes que a gente tinha, próprias da livraria. Neste processo, a gente pode perder algumas coisas. Então, tive que dar um passo atrás, dois, e rever a maneira como estava fazendo as coisas. E aí começar de novo e trabalhar muito mais essa questão de cultura da empresa. Eu achava que a questão cultural, de referência, de DNA, era transmitida de um jeito mais fácil. E não é.
GE - Pode exemplificar um pouco?
Herz - Se uma pessoa vê um problema na sua área, ela não vai falar direto com você, vai falar com o seu chefe e vai deixar que ele tome providências. Se eu ver algo, eu vou falar com você na hora e depois vou falar com o seu chefe. Entende? Esse meu contato direto, às vezes, incomoda quem está no comando. Só que o dono não espera, não está aí para estas coisas. Eu vou falar com o meu gerente para ele tomar uma atitude se eu posso falar direto com você? Falo direto.
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